terça-feira, outubro 21, 2008

AMÉRICA GOOD!

América...Good!
Quebrando as barreiras do trabalho legal nos Estados Unidos.

Como trabalhar no país e a história dos brasileiros, como você, que conquistam espaço no mercado de trabalho americano a cada ano.

Prólogo

Primeira Temporada

1. Como chegamos até aqui

A arriscada corrida pelo México
Cruzando a fronteira pela entrada principal
O derradeiro a chegar
A barreira do consulado

2. Eu também sou Doutor

Mãos à obra
Bem vindo ao processo seletivo
Em busca de um rumo profissional
Trabalhadores classe A

3. Coral Harbor: Onde moram os melhores momentos

A melhor surpresa
Curtindo a vida adoidado

4. Carpe diem

Vivendo de expectativas
O primeiro grande choque
A hora da verdade
Segurando a bandeja
Salário de gigante
Eu não pertenço a esse lugar
Saúde é o que interessa
Reúnam-se os bons
As noites a La carte
Brasileiro no comando
Center Court Café
Cozinha: Nos bastidores do show
Pneu furado
Abandonando o barco

5. Das flores aos espinhos

Os representantes de uma elite florida
Os escolhidos
Momentos que antecipam a chegada à Big Apple


Segunda Temporada

6. Feudalismo metropolitano

Depois da euforia, o começo de uma furiosa tempestade
The Monkey House
O pior do pior
O rodízio de funções
O trio de carrascos
Você tem fome de que?
As rebeliões de classe
Locker- Room e Half-Way House
Manhattan, o nosso alento
A Guerra dos últimos dias

7. Enfim, um refrigério no verão

O Sol de verão
Adeus ao Coral Harbor

8. De todos os cantos da terra

E eles chegam da Europa...
As diferenças culturais
Duas trajetórias, dois destinos
Trocando bandejas por papéis
Vítimas do sonho americano
Verdadeiramente, a terra das oportunidades

9. A segunda chance

Tentando derrubar as muralhas
Boas razões para regresso
No olho de Wilma
Novas, grandes e velhas expectativas
Os novos contratados
Uma nova morada
Vou de van
A seleção brasileira
A hora e a vez das brasileiras nas noites a La carte
Gerente Brasileiro na cozinha
As baixas da vez
Em tempos de guerra não pare de lutar
Seria o começo de um futuro na América?

10. Minha benção

E disse Deus: haja luz e houve
O grande encontro
Dias de virada
Um sonho e dois empregos
Meus últimos dias no clube
Agora...um furacão
Enquanto isso...no Broken
H-1B Negado
Vivendo numa redação
Miami & Yo
Fins de meus tempos na revista
As primeiras vitórias na América
A cinderela é brasileira
O jogo só termina quando acaba
Consagração


Embarque nessa viagem

Vale a pena se aventurar?

A vida depois das temporadas
Sua viagem começa em casa
Por que escolher o H-2B?
Encarando a realidade
O estilo de vida americano
Você já está pronto?
Caminhos para a imigração definitiva
Green Card, o grande mito



Prólogo

Barulho da prataria caindo em bandejões cheios de louças sujas, falação, gritaria, risadas, palavrões, homens e mulheres vestidos de preto, entrando e saindo pela porta automática que leva ao salão do restaurante principal. Isso faz parte dos bastidores da cozinha de um dos grandes restaurantes finos, de grande porte, localizado na cidade de Boca Raton, nos Estados Unidos.

Diariamente, bem no meio dessa loucura, um colombiano conhecido por sua inconveniência, e não muito admirado pelos colegas, costumava entrar e sair da cozinha com um clássico grito que ficou marcado no coração de cada recruta que trabalhou no Broken Sound Club da Flórida, nas temporadas de 2005, 2006 e 2007.

Carregando nos ombros enormes bandejas cheias de pratos a serem servidos, ou até mesmo restos de comida e louças sujas que restaram dos pratos artisticamente elaborados, ele gritava com muita ironia, em alto e bom som, a lendária expressão “América... Good”! O grito se popularizou de tal maneira que, vez ou outra, alguns de nossos companheiros passavam pelo corredor dos lavadores de louças e iam até a cozinha repetindo a mesma frase.

Esse grito expressava vários tipos de emoções: muitas vezes, liberava a aflição de cada trabalhador que o bradava; outras, ele verdadeiramente lembrava que, apesar de todo o alvoroço daquele novo estilo de vida, a América poderia ser boa para aqueles que deixavam seu país de origem para enfrentar horas de trabalho braçal. Entretanto, para fazer parte desse cotidiano, bem antes do dia da tão temida entrevista para o visto de entrada nos Estados Unidos, eu mesma passei por um processo longo.

Meu primeiro passo foi participar da Job Fair (Feira de Empregos Internacionais), em outubro de 2004, realizada por uma agência de intercâmbio cultural em Campinas. Eu me questionava se valeria a pena deixar de me formar, pelo menos naquele momento, até que esse programa de intercâmbio terminasse. Mesmo na dúvida, minha sede por mais uma viagem internacional superava ou adiava muitas formalidades da vida.

Semanas depois da feira, na madrugada do dia dois de dezembro, uma quinta-feira, embarquei para São Paulo em busca da autorização de entrada mais difícil, o sonho de diversos cidadãos do mundo. Seguindo a caminho do elegante bairro do Morumbi, depois de quase três horas de viagem (uma hora e meia de Campinas a São Paulo, mais quase duas horas do Terminal Rodoviário Tietê até a Rua Henri Dunant, na Chácara Santo Antonio), cheguei ao consulado, já bem atrasada para minha entrevista, que havia sido marcada para as oito e meia da manhã.

Felizmente, todo o processo ocorre por ordem de chegada; assim, mesmo estando lá depois das nove e meia, não tive problemas. Notei que a nova instalação do consulado parecia um presídio, cercada de seguranças, com uma estrutura de dar inveja a muitos presídios brasileiros.
Para pegar a fila de entrada, é necessário abrir a bolsa, para que o segurança que fica posicionado na porta de entrada a reviste. A fila é enorme e, depois de passar pela primeira triagem de identificação, passa-se pela segurança, que, através do sistema de raio-x, semelhante ao aplicado pelos aeroportos, checa os itens pessoais que você carrega, recolhendo os celulares (proibidos de serem carregados para dentro dos portões).

O pessoal da segurança é bem educado e não faz nenhum tipo de careta quando fazemos qualquer pergunta. Eles são bem amáveis, ao contrário de alguns funcionários e cônsules. A média do tempo total de espera para sair com o visto concedido é de cerca de três horas, e o tratamento psicológico é de choque, principalmente quando os funcionários fazem pressões intimidadoras nas pessoas que conversam durante a espera. No dia em que eu estava lá, eles prometiam retirar os indivíduos do local se o problema persistisse, ou seja, se a conversa não fosse abafada ou extinguida. Mas o pior de tudo era pensar no quanto pagamos por todos esses aborrecimentos psicológicos que passamos nesse local: só para ser entrevistado, é cobrado US$ 100, sem direito a reembolso. Assim, se o visto é negado, além da frustração, leva-se um prejuízo financeiro e US$ 100 vão para o ralo... De qualquer maneira, a pressão desse processo é tão grande que, quando o cônsul entrega o visto e a ficha para pagar, você vai para a fila do pagamento como se tivesse acabado de ganhar na loteria.

Há vários tipos de torturas psicológicas, e uma delas acontece quando vemos alguns entrevistados discutirem com os cônsules ou saírem chorando por terem seus vistos negados. Depois de muito suadouro e um exagerado frio na barriga, chega-se ao momento mais esperado e temido, antes da viagem: a entrevista com o cônsul.

Comigo, o cônsul foi bem seco e direto. Ele fez duas ou três perguntas óbvias, e acabei por concluir que a entrevista em si não serve para nada, somente para comunicar se você está autorizado a entrar nos Estados Unidos ou não. Tudo parece ser definido de acordo com a ficha preenchida, com seus dados pessoais e passaporte, que são entregues no segundo processo de triagem. De qualquer forma, há que se passar por isso, pois ainda não criaram uma maneira mais fácil para que pudéssemos exercer nosso direito de ir e vir.
Já no dia sete de dezembro de 2004, parti bem cedo para buscar meu visto e viajar para os Estados Unidos, no mesmo dia, à noite. O dia foi uma verdadeira maratona. De Campinas ao consulado, gastei cerca de três horas. Levando-se em conta que eu deveria novamente sair de Campinas às seis e meia da tarde, com destino ao aeroporto de Cumbica, acabei fazendo mágica!
Após retirar meu passaporte com o visto, saí do consulado correndo desenfreadamente contra o tempo, voltei a Campinas para arrumar os últimos detalhes, tomar um banho de gato e partir para o aeroporto. Chegando lá, conheci alguns de meus novos companheiros de trabalho, e mais duas funcionárias da agência de intercâmbio responsável por nossa viagem, além de Flávia, a moça com quem tratei de todos os trâmites durante meu período de preparação para o programa. Todos estavam devidamente uniformizados com camisetas pretas que destacavam o nome da agência.
As primeiras pessoas com as quais tive contato foram uma garota de Salvador e outra de Curitiba. Logo após minha chegada, outros foram se somando ao grupo de aventureiros, que perfazia um total de 12 pessoas. No avião, também ficamos sentados em grupos e pudemos nos conhecer um pouco mais. O vôo da American Airlines estava absolutamente lotado, e em um dos lugares da fileira do meio fomos sentados eu, a paulistana Ana Carolina, o também campineiro Maurer e a Gabriela, originária de Monte Alto, cidade do interior do estado de São Paulo.
Depois de aproximadamente sete horas de vôo, estávamos em Miami, realizando todas as etapas para ingressar definitivamente na América. Nosso primeiro passo foi passar pela tão temida imigração. O processo foi bem rápido. Depois de passar pelas autoridades, já não há mais nada que impeça um viajante de entrar em qualquer país.
Enquanto pegávamos as malas, um segurança do aeroporto ficava passeando por entre os viajantes, com seu “fofo” cachorrinho farejador cheirando todas as malas oriundas de nosso vôo, em busca de entorpecentes, plantas, comidas, ou seja, itens proibidos de ingressar no país.
Nesse momento, nosso colega Rudinei solicitou a uma garota desconhecida, que estava ao nosso redor, que tirasse uma foto de toda a galera. Quando o segurança do aeroporto percebeu, ele a repreendeu e, por sorte, não lhe tomou a câmera fotográfica. Esse ficou sendo um dos grandes e marcantes momentos de nossa chegada.
Foi muito gostoso ver a extrema excitação com relação ao desconhecido nos olhos daqueles que eram marinheiros de primeira viagem. A sensação proporcionada pela primeira viagem ao exterior é sempre incomparável. São tantas novidades e informações, que chega até a ser um pecado tantas pessoas nunca terem uma oportunidade como essa.
Ao passarmos por todos os processos internos do aeroporto internacional de Miami, encontramos um grupo de jovens manobristas do clube nos esperando. A recepção foi ótima e seguimos viagem, direto para Boca Raton, cerca de 40 minutos de Miami, mesmo antes de clarear o dia.
O Coral Harbour foi outra bela surpresa. Trata-se de um condomínio muito bonito, e os apartamentos estavam em ótimas condições. Ele tem a mesma arquitetura que a maioria dos condomínios que encontramos nos EUA e, apesar da beleza, nos primeiros dias nós não conseguíamos nos encontrar entre as ruas de lá: nos perdíamos com freqüência para chegarmos até nossos apartamentos.
No condomínio, os apartamentos são bem grandes e, além de dois quartos, há sala de jantar, cozinha, lavanderia, dois banheiros e ainda mais dois armários closets. No do meu quarto, que era o menor, dava até para dormir dentro! Nos EUA, quando se aluga um apartamento, geladeira e fogão já são embutidos, pois todos os apartamentos seguem o padrão de serem montados com esses itens básicos. Além disso, o nosso era mobiliado com dois sofás extremamente confortáveis, televisão a cabo, rádio-relógio, microondas e máquinas de lavar-louças, de lavar e secar roupas (estas geralmente ficam em uma área externa dos condomínios, o que obriga que as pessoas paguem para ter suas peças lavadas). Além de tudo isso, também havia um aspirador de pó para limpar o carpete, que percorre quase todas as áreas do apartamento, excluindo cozinha, lavanderia e banheiro. Para aqueles que nem imaginam, adianto que todo apartamento ou casa nos Estados Unidos tem uma banheira padrão, o que é bem diferente das casas brasileiras. Só faltava um telefone na casa ou, ao menos, um telefone público, e acesso fácil à Internet para fazer a alegria de todo esse pessoal que acabava de chegar à América.
Ao primeiro impacto ficamos extasiados, mas, apesar de toda essa mordomia, tudo era bem longe. Sem um carro, era quase impossível se locomover. Para facilitar nossa vida, foram-nos proporcionadas bicicletas, ao menos, para ir ao trabalho e fazer algumas atividades necessárias, como compras, por exemplo.
Da nova casa, o clube ficava a 15 minutos pedalando; contudo, há distâncias que são exageradamente longas para se percorrer de bicicleta, sem contar que é bem difícil ter uma noção de distância, pois, quando perguntávamos por distâncias, a resposta vinha em milhas. Por isso, depois de fugir freneticamente de minhas aulas de matemáticas durante a vida toda, tive que aprender a transformar milhas em quilômetros. Morávamos numa cidade praiana e não podíamos ir à praia, porque esta era bem longe da área em que morávamos.
Se eu não tivesse conhecido a região do Broken Sound, jamais teria noção da riqueza local. Rodeada por magnatas, tem-se a impressão de que a cidade de Boca Raton é inteiramente criada para ser um lugar em que não há nada além de condomínios luxuosos e ricos. Em nossa região, não havia ruas “normais”: éramos cercados por avenidas que aparentavam ser rodovias.
O clube pelo qual fomos contratados é um local onde as pessoas passam o tempo jogando tênis, fazendo massagens, exercícios, nadando e por fim, jogando golfe, nos imensos campos verdes. Nós, os trabalhadores internacionais – como somos chamados por aqui –, fazemos parte do departamento de Alimentos e Bebidas (Food & Beverage, F&B), ou seja, restaurantes, bares e cozinhas do clube.
Há vários campos de golfe espalhados pela região do Broken Sound (é, o clube tem uma região da cidade) e o sistema deles é assim: as pessoas compram mansões em condomínios que estão localizados dentro da área do clube, pagam uma anuidade à administração e, quanto mais elas pagam, de acordo com uma tabela de preços administrativa, mais acesso elas têm às atividades oferecidas pelo clube.
Esses condomínios são repletos de mansões com inúmeros campos de golfe e lagos cheios de crocodilos, encobertos por pontes dignas de cartões postais. Placas alertando para o perigo dos crocodilos estão espalhadas por todas as partes da cidade, inclusive no lago que havia no condomínio em que morávamos.
Como na maioria das cidades americanas, pessoas caminhando na rua era artigo de luxo. As únicas pessoas que se vê caminhando são os estrangeiros e os imigrantes – além de nós, os trabalhadores internacionais, que recebemos bicicletas para circular pela região. Ao percorrer as ruas internas do clube, era muito comum encontrarmos senhores e senhoras caminhando com seus cachorrinhos. Conforme instruções da gerência, sempre que cruzávamos com um deles, que são os membros do clube, saudávamos com bom dia, boa tarde ou boa noite. Mas como essa gente quase nunca põe o pé fora de casa, o desfile de beldades automotivas era de arrepiar. Carros caríssimos, mesmo para os americanos médios, eram carne de vaca por lá.
Segundo nossos cálculos, somente depois de três meses de trabalho e com economias é que poderíamos tentar comprar um carro. Caso não fôssemos exigentes, com pouco mais de US$ 500 poderíamos comprar um carro velho, mas que andasse. No mundo onde o sistema capitalista funciona, ou pelo menos funciona melhor, para se ganhar US$ 500 não é preciso muito mais do que uma semana.
Mesmo morando em uma região rica como a de Boca Raton, uma das cidades mais ricas do país, considerada um balneário, onde os endinheirados vão para se aposentar, US$ 500 é uma pechincha comparado ao valor do aluguel que cada um pagava: individualmente, por um quarto duplo em nosso apartamento, desembolsa-se US$ 460 por mês.
Mas para aqueles que não querem gastar essa grana, considerada uma fortuna em muitos países, com um carro, resta se contentar com as caronas de carrinho de golfe, que circulam aos montes e a toda hora pelas ruas internas do clube. Muitos de nós nunca havíamos imaginado dar voltas em carrinhos de golfe. Em menos de uma semana, viramos proletários, mas com muita etiqueta!
E assim era a nossa América. Embora excelente para os nativos, para os trabalhadores temporários internacionais, que haviam deixado tudo para trás com o intuito de ganhar alguns dólares ou até mesmo fazer a vida no país, dá com uma mão e tira com a outra.
Mesmo assim, a cada temporada, o país abre as portas para milhares de latinos, africanos, asiáticos, e por que não, europeus. Esse contingente de novos rostos chega ao país com diversos tipos de objetivos. Uns vêm aprender inglês, outros aprimorar; há aqueles que vêm ganhar experiência profissional, internacional; por fim, há aqueles que vêem na possibilidade de trabalhar temporariamente no país uma porta aberta para a residência legal.
Esses brasileiros, latinos e demais estrangeiros que contam sua história de vida, a partir do momento em que saíram de casa e assumiram a América como pátria temporária, se dispuseram a participar desse meu grande projeto, que começou semanas antes de eu embarcar para o país, com a intenção de experimentar a vida de um trabalhador temporário nos Estados Unidos, e viver na pele sonhos que muitos desejam realizar. Muitas vezes, por falta de oportunidade ou coragem, muitas pessoas acabam perdendo a chance de viver essa experiência, que vale por uma vida, mesmo requerendo se passar por todos os tipos de situações, inclusive humilhações desmedidas.
Durante este retalho de histórias reais, levarei os leitores a momentos fantásticos, a conhecer pessoas maravilhosas ou muitas sem nenhum escrúpulo. Através das páginas deste relato, você também visitará belíssimos lugares, conhecerá personalidades, terá sensações incríveis, como passar por fenômenos naturais – como um furacão –, além de reconhecer alegrias, decepções, tristezas e sofrimentos bem reais. Através desses incríveis personagens, você vai descobrir grandes indivíduos, cheios de paixão pela vida, pelo novo, e vai se perguntar se você já está apto para encarar uma aventura como essa, que, com certeza mudará sua vida.



Capítulo Um


Como chegamos até aqui


Confia ao Senhor as tuas obras, e teus pensamentos serão estabelecidos.
Provérbios 16:3


A arriscada corrida pelo México
Milhares de brasileiros e estrangeiros chegam a cada ano aos Estados Unidos para uma temporada de trabalho. Depois de uma primeira temporada, muitos voltam aos seus países de origem para recomeçar a vida; outros, depois de alguns meses de descanso em casa, acabam retornando para outra temporada de trabalho, no mesmo lugar ou em uma nova região dos EUA. Por fim, há aqueles que, por força do destino, acabam adotando a América como lar permanente.
A exemplo da criação do mundo, o povo escolhido por Deus segue um caminho cheio de espinhos, lutas, alegrias, decepções e muitas glórias em busca da “terra prometida”. Todos esses peregrinos, acreditando ou não, perseguem o sonho que Deus lhes coloca no coração, vão até a terra que lhes dê bons frutos e dela tomam posse. Nesse período de peregrinação, muitos ficam pelo caminho, mas há aqueles que conquistam a sua “terra prometida”, ficando num país estranho, ou até mesmo voltando ao seu país de origem para recomeçar.
Quando falamos de imigração para os EUA, seja ela permanente ou não, a história mais contada é a de um indivíduo que atravessa a fronteira do México para viver o sonho de vida americano. Em minhas idas e vindas em busca da minha “terra prometida”, conheci pessoas que vivem nas mais diferentes situações nos EUA, incluindo muitos brasileiros que atravessaram o México e foram até as últimas conseqüências para chegar ao território americano.
Como um dos milhares de exemplos, Estevão Silva*, 39 anos, hoje vive há mais de cinco anos nos EUA, trabalhando e economizando dinheiro para reconstruir sua vida no Brasil. Em busca do seu sonho, ele deixou sua mulher, um filho (que na época tinha onze anos de idade), pai, mãe e toda uma vida construída numa cidade do estado de Santa Catarina, região sul do Brasil.
Um ano depois de sua chegada aos Estados Unidos, Estevão reencontrou a mulher em Biloxi, no estado do Mississipi. A intenção era trazer toda a família mas, por problemas burocráticos, ele nunca conseguiu trazer o único filho para a terra da Disney World, o mundo de fantasia para milhares de imigrantes que cruzam a fronteira para alcançar o território de um dos países mais prósperos do mundo.
Quando sua mulher chegou aos EUA, ela passou a garantir um reforço na renda familiar, e ambos passaram a trabalhar duro, com o intuito de guardar o maior montante de dólares possível para um retorno definitivo e sem frustrações. Mesmo com esse desejo, nesse período de trabalho intenso, Telma* acabou engravidando e deu à luz mais uma criança americana, filha de imigrantes ilegais.
Ainda com a pequena nos braços, ela continuou a trabalhar, e a renda da família (e do filho no Brasil) estava garantida, enquanto Estevão e Telma caminhavam em busca do sonho da família. Mas nem tudo eram flores, como costumam pensar as pessoas que não têm a coragem de lutar pelos seus ideais, e em muitos casos, idealizam ao próximo, enxergando a grama do vizinho sempre mais verde.
O primogênito de Estevão crescia sem a presença de pai e mãe, e enfrentava uma fase muito difícil na vida familiar e nas relações escolares. Assim, Telma deixou o marido e veio acompanhar a vida do filho mais de perto, pois o adolescente sofria muito com a ausência de toda a família e por não conseguir autorização para ir morar com os pais. Mesmo sendo muito apaixonado pelo filho e sentindo muita falta dele, Estevão não queria deixar a América antes de ter a garantia de alcançar uma vida melhor e sem sofrimentos no Brasil.
Telma voltou ao país com a filha no colo, algum dinheiro no bolso, e pronta para dar uma arrancada no recomeço da família, até que o marido alcançasse seu objetivo e retornasse. Com quase toda a família reunida, Estevão se dispôs a ficar mais algum tempo na América, a fim de completar com êxito o objetivo a que havia se proposto quando saiu do país com destino ao México, para tentar a sorte cruzando a fronteira entre México e Estados Unidos.
O torneiro-mecânico Estevão deixou o país em 2000 e seguiu para essa aventura determinado a mudar de vida. Sua idéia inicial jamais incluía a possibilidade de morar na América definitivamente mas, depois de algum tempo, muita coisa mudou, e hoje ele espera uma nova lei de imigração, que começou a ser discutida no congresso norte-americano no ano passado, mas foi engavetada com previsão de retorno às discussões em 2009, após a posse do novo presidente americano.
Esse projeto de anistia poderá dar oportunidades para aqueles que entraram no país e permaneceram em situação ilegal antes de 2001. O resultado da aplicação dessa nova lei lhe dará a possibilidade de conquistar à tão sonhada permissão de trabalho no país, ou até mesmo o almejado Green Card, documento que permite ao imigrante ter residência fixa nos EUA. Quando de fato essa lei entrará em vigor ninguém sabe, mas o sonho atual possivelmente segurará Estevão alguns bons anos de trabalho nos EUA, mesmo sendo casado há mais de 16 anos e tendo, no Brasil, dois filhos (o menino com aproximadamente 15 anos e a menina com pouco mais de dois anos).
Antes de viajar para os EUA, Estevão costumava pular de trabalho em trabalho, e vendia carros para sustentar a família, mas o desejo de desbravar fronteiras, não começou nessa época. Aos 23 anos, bem antes de se casar, ele já queria tentar a vida na América, porém, com o casamento às portas, resolveu se estabelecer no Brasil. Aos 34 anos e com família constituída, recebendo muito apoio dos pais, e principalmente da sua mulher, começou a planejar a viagem.
Com dois meses de antecedência para a preparação, e 14 dias de espera no México, finalmente Estevão fez a viagem que mudaria sua vida, dois dias antes do atentado de 11 de setembro em Nova Iorque.
Para ele a travessia da fronteira foi muito mais fácil do que imaginava, e ele se diz preparado para outra, caso saia do país e queira retornar.
“Eu nunca pensei em tirar o visto, porque a maioria das pessoas que eu conheci, foi pegar esse visto, e ele foi negado. Eu não ia lá gastar dinheiro à toa, e eu conhecia uma mulher cujos parentes estavam aqui, e eles me deram o telefone das pessoas que “passaram” eles. Tudo que eu gastei foram cinco mil e 400 dólares, sendo 800 dólares só para o coiote. Eu não tinha esse dinheiro, e vendi tudo. Sai do Brasil no dia 26 de agosto de 2001, e cheguei aos Estados Unidos no dia 9 de setembro de 2001”.
Antes da travessia, ele ficou instalado na cidade de Nuevo Laredo divisa com a cidade de Laredo, estado americano do Texas. No dia D, apareceu um taxista que bateu na porta do quarto hotel, e pediu para que ele e seus companheiros arrumassem tudo, e embarcassem no táxi. “No trajeto, pegamos dois coiotes1 e fomos até o Rio Grande, que separa os dois países. Ás duas horas da tarde, nós fomos atravessar. Só estávamos com a roupa do corpo e o dinheiro. Na travessia dois coiotes me acompanhavam, além de mais duas pessoas. Enchemos uma bóia e depois de uns dez minutos atravessamos. Do outro lado do rio, andamos cerca de uns três minutos, e assim que subimos um barranco, saímos dentro de uma das lojas de uma rede de fast-food americana. Lá mesmo, o coiote chamou outro rapaz, que nos levou até uma casa. Nessa casa havia uma mulher e um rapaz, que estavam lá já por uns 30 dias, e ficariam até que eles pudessem pagar toda a transação. Assim que você paga tudo, eles liberam. Todos que iriam atravessar eram brasileiros, e dentro da casa ficavam quatro coiotes. Eles nem conversavam com a gente, e ficavam dentro de um quarto,” relata Estevão.
Até chegarem à capital do estado texano, a cidade de Austin, eles permaneceram escondidos na boléia de um caminhão, para evitar a fiscalização das autoridades de imigração americana, que é muito mais acirrada nas cidades fronteiriças do que na fronteira física em si, já que, ao contrário do que muitos pensam, cruzar a fronteira é bem mais fácil do que o trajeto da região da fronteira até alguma outra cidade principal americana. Por isso, o caminhão chegou a ser checado pelas autoridades de imigração, mas eles não conseguiram encontrar Estevão, e seus dois companheiros, apertados e escondidos no caminhão.
“É... você chega à cidade do México, tem um que te leva até a fronteira, dali há dois que te passam. Passou do outro lado, há outro que te coloca dentro do caminhão, o caminhoneiro vem até Austin, e ali há mais dois esperando. A gente passou por sete coiotes. É como se fosse uma empresa”.
Mesmo tudo correndo com perfeição, quando ele chegou ao território americano, já teve as primeiras decepções. A participação dos coiotes no negócio acabou quando eles compraram as passagens de ônibus para os atravessados. Coincidentemente, o destino de Estevão e de seus companheiros, também brasileiros, era o mesmo. Os três seguiriam para a região nordeste americana, mais precisamente para a cidade de Boston, estado de Massachusetts.
Daí para frente era encarar a gringolândia sem uma palavra de inglês no vocabulário. Tarefa difícil? Difícil seria Estevão constatar que as pessoas que supostamente o receberia para dar o apoio inicial, na hora H dariam para trás.
“Quando chegamos em Boston, foi doido. Lá, eu tinha entrado em contato com duas pessoas que eram parentes de uns amigos meus, e iam dar um lugar para eu parar. Os dois desligaram o telefone, e a sorte foi que o primo desses dois que vieram comigo, me levou para casa deles. Ele me arrumou um serviço e um apartamento para eu morar. Meus primeiros dias não foram muito bons, porque cheguei no dia nove, e no dia onze foi o atentado das torres gêmeas. Isso foi um sufoco para todo imigrante porque a polícia andava direto nas ruas”.
Hoje em dia, Estevão trabalha e trabalhou de tudo um pouco, superando a dificuldade de não falar inglês, problema corriqueiro na vida de muitos imigrantes, que se viram com o espanhol, segunda língua do país. Trabalhou com serviços de pintura, limpando restaurante, camareiro. Todo tipo de funções que não dão status, e são muito pouco valorizadas no Brasil. Conseguiu recuperar o dinheiro investido na travessia logo de cara, mesmo sustentando a família no Brasil.
Deste modo, mais de cinco anos depois da aventura, ele já goza de uma boa situação financeira, e hoje já quase alcançou o valor objetivado antes de sair do Brasil. Durante todo esse processo, ele recebeu um grande apoio de sua mulher que encarou quase a mesma aventura, com o diferencial de entrar no país como turista. “As coisas estavam se encaminhando bem aqui, e ai fomos atrás de um visto para Telma* e para meu filho Tiago*. Consegui para ela, e veio sozinha”.
Residente no sul do país, Telma teve que viajar até a cidade de Recife, estado de Pernambuco, localizado na região nordeste. Todo esse esforço por conta de um processo de visto arranjado, ou seja, ilegalmente comprado. Estevão conta que isso foi possível com a ajuda de uma conhecida que tinha um contato dentro do consulado. Na história, a compra só foi possível para a sua mulher, assim o menino acabou ficando de fora. “Paguei US$ 2.500 dólares pela transação, e minha mulher teve que ir à entrevista, mas ela foi com uma pessoa que libera tudo. Na verdade nem teve entrevista”.
Mesmo sendo imigrante ilegal, a maior dificuldade encontrada por Estevão foi à falta de falar o idioma. Na época de nossa entrevista, ele garantiu que já teria passado da hora de voltar ao Brasil, e que estava com as malas quase prontas, enquanto aguardava posições concretas da nova lei de imigração. “Só tenho medo de chegar ao Brasil, e não conseguir me adaptar mais. Meu plano lá agora é montar um negócio, mas caso dê errado, volto para cá,” conclui Estevão.

Cruzando a fronteira pela entrada principal
Apesar de existir uma grande leva de atravessadores de fronteiras, um bom número de brasileiros e estrangeiros não chegam ao extremo de correr os riscos que o ato de atravessar a fronteira oferece, pois entram no país com o visto estampado no passaporte. De cada mil pessoas que cruzam ilegalmente, uma morre na cruzada que leva à terra do Tio Sam. De acordo com a estatística de mortes realizada pela Patrulha Fronteiriça dos Estados Unidos (Border Patrol), em 2005, houve um número de 460 mortes entre as pessoas que tentaram a façanha de burlar as autoridades da fronteira americana.

Por essas e por outras, no dia sete de dezembro de 2004, o segundo grupo de trabalhadores temporários, do qual eu fazia parte, embarcava em São Paulo com destino a Miami, enquanto o primeiro grupo, que havia viajado uma semana antes, já estava trabalhando no clube de golfe Broken Sound, localizado na cidade de Boca Raton, estado da Flórida, há cerca de 50 minutos de Miami.

Enquanto alguns encaravam a sua primeira experiência de trabalho no exterior, outros estariam voltando para a segunda temporada no país. Mas, até chegar a esse tão esperado momento, muita expectativa e burocracia faz parte da vida de cada candidato ao emprego no exterior. Tudo começa quando o indivíduo decide abandonar seu país, mesmo que por poucos meses, e viver uma vida que definitivamente não lembra em nada a que ficou para trás. Novo país, novos costumes, nova casa, novos amigos, tudo fazendo parte de uma nova e grande família. Enquanto uns encaram tudo com muita sabedoria e paciência, outros se descabelam com a falta que a família e os amigos queridos fazem nessa nova caminhada.

Tudo nos leva para o desconhecido, porque mesmo aqueles que chegam nos Estados Unidos com uma idéia exata do que vão fazer após o término da temporada quase sempre mudam de rumo. A maioria dos viajantes começa a viver uma série de conflitos pessoais ao se deparar com a hora da volta para casa; em muitos casos, acontece um adiamento inesperado ou permanente.

O que me levou a investir numa segunda temporada de trabalho nos EUA foi a paixão por viagens, a vontade de viver no exterior e o sonho de investir no futuro de minha carreira profissional. Acredito que, como eu, muitos adorariam ter uma experiência no exterior, mas perdem a coragem por vários motivos, principalmente por falta de recursos financeiros para isso. A maior vantagem de passar esse tipo de experiência nos Estados Unidos é que, apesar desse país ser conhecido como o bicho papão dos imigrantes, ele é um dos poucos que oferecem oportunidades de trabalho legal temporário, mesmo que com processos de autorizações bastante burocráticos.

“Sempre queria viajar e, como estava eu aborrecida com a faculdade, o trabalho, e tinha terminado com o namorado, decidi ir para a Inglaterra. Quando já estava tudo certo, e pago, acabaram-se as permissões de trabalho para lá. Aí eu fui a outra agência, e comecei a ver a viagem para os EUA”, explica a estudante de Turismo Mariana Cerqueira, 24 anos.
Além de Mariana, algumas das pessoas entrevistadas neste livro encarariam a experiência de trabalho no exterior em qualquer lugar do mundo, principalmente em países como Inglaterra ou Austrália. Entretanto, os principais empecilhos para a concretização da viagem para esses países são a falta de permissão de trabalho legal, no caso da Inglaterra, e os altos valores das passagens aéreas para os brasileiros chegarem até a Austrália.

Bem antes de ir para os EUA, Mariana, alimentava o sonho de ir estudar e se especializar em sua área profissional na Austrália. Agora, já em casa, no Brasil, ela se dedica aos estudos para terminar a sua graduação, arrumar as malas, e seguir para o sonho antigo - e a nova aventura - com o dinheiro economizado em pouco mais de dois anos de trabalho na América.
Entre os viajantes, constata-se que a grande maioria dos estrangeiros que vão em busca de trabalho temporário nos EUA, se pudesse, evitaria passar aborrecimentos no consulado americano para a obtenção do visto. O que eles querem mesmo é passar uma temporada ganhando dinheiro, sem a idéia de morar ilegalmente no lugar ou até mesmo tentar fazer fortunas. Se os outros países facilitassem a entrada desses estrangeiros para trabalho temporário, os EUA perderiam muitos desses jovens, especialmente com a baixa atual do dólar.
Ambos os países, o Reino Unido e a Austrália, oferecem a possibilidade do estrangeiro trabalhar 20 horas semanais, quando matriculados em algum curso de língua em seus territórios, mas nada que proporcione um salário suficiente para pagar seus custos mensais e ainda economizar uns trocados, com a liberdade de ficar longe da obrigação de freqüentar a sala de aula, especialmente quando a pessoa já tem um bom domínio do idioma.

A Inglaterra até oferece uma quota para pessoas formadas, ou com experiência em turismo e hotelaria; contudo, essa quota nem sempre está disponível, e prioriza estrangeiros que fazem parte da união européia, restando assim muito poucas opções de vagas para as demais áreas, e para os estrangeiros com outros tipos de formação.

“Eu tinha visto em uma agência de intercâmbio um trabalho na Inglaterra, mas era para lavar frangos. Eu não quis, porque era um trabalho muito difícil. Seria duro ficar um ano lavando frango”, diz Sandra Higashi, de 28 anos, formada em Computação.
Como Sandra Higashi, muitos trabalhadores temporários têm nível universitário e condições de optar por não realizar serviços braçais ou sem qualificação profissional, em seus países de origem, sendo que grande parte também nunca experimentou fazer esses tipos de atividades antes de ir trabalhar no exterior.

O grande atrativo de participar de um intercâmbio como nos EUA é que o temporário pode reaver o dinheiro investido na viagem já nos primeiros meses. Alem disso, consegue juntar uma boa grana para o retorno, conhece todos aqueles lugares que muitos acreditavam que só poderiam ver nos filmes, e abrem um horizonte de possibilidades para a sua vida futura.
Eu imaginava terminar a faculdade e conseguir um estágio profissional no exterior. Durante meu último ano, passava dias na Internet buscando estágio nos EUA, mas, infelizmente, a maioria dos estágios oferecidos para estudantes ou recém-graduados em Jornalismo é sem remuneração, e direcionada para a área de impressa, como jornais e revistas.
Uma tarefa extremamente difícil, pois como eu arrumaria dinheiro para bancar minhas despesas nos EUA com um trabalho não remunerado? E o pior de tudo: como eu encontraria alguma empresa que daria a oportunidade de estágio para uma pessoa que não poderia escrever em inglês como um nativo? Mesmo com o ótimo nível de inglês que eu havia conquistado, com anos de estudo e algumas viagens, isso não seria suficiente para um trabalho em Comunicação na América, o que exige um inglês impecável e, muitas vezes, o domínio do espanhol, a segunda língua do país. Outra barreira seria conseguir convencer as autoridades do consulado de que eu teria condições financeiras suficientes para viver nos EUA com um trabalho sem remuneração. Uma tarefa dificílima, porém não impossível, como você constatará nas próximas páginas.




Capítulo Dois


Eu também sou doutor


O coração do homem considera o seu caminho, mas o Senhor dirige os passos.
Provérbios 16:9


Mãos à obra
Limpar chão, banheiro, lavar louça, servir mesa para madame. Todas essas atividades nada valorizadas num país latino fazem parte do cotidiano dos trabalhadores temporários, que chegam a cada temporada, seja ela de verão ou de inverno, aqui nos Estados Unidos.
Aqui, independente da classe social, raça ou cor, quase todo mundo cai numa mesma categoria, e o negócio é colocar a mão na massa. Encarar o trabalho braçal horas a fio não é uma das tarefas mais simples, especialmente porque essa leva de trabalhadores estrangeiros, que se sujeita a trabalhar em funções muitas vezes inconcebíveis em seus países de origem, são estudantes universitários, graduados, com experiência profissional e, em alguns casos, pós-graduados.
Em meio às diversas maneiras que um estrangeiro tem para trabalhar legalmente nos Estados Unidos, atualmente as proporcionadas pelo visto de permissão J-11 ou H-2B2 são as mais populares entre estudantes universitários, profissionais graduados ou por até mesmo por estrangeiros graduados pelo ensino médio, e que não possuem nível superior. A partir do momento em que a pessoa constata que possui os pré-requisitos para participar de um desses dois tipos de programas de trabalho temporário, uma porta de oportunidades é aberta na vida de cada candidato.
já tinha experiência em trabalhar no exterior, adquirida nos EUA. Isso aconteceu em 2001, quando fui ao país para um trabalho temporário de férias, por meio do programa Work and Travel. Por meio desse intercâmbio, milhares de estudantes universitários passam as férias de final de ano trabalhando na América do Norte. As funções, geralmente, são de garçom em restaurantes, atendente de lojas, atendente em lanchonetes fast-food, camareiro, faxineiro, recepcionista, entre outras funções do mesmo tipo. Para vir ao país através desse programa, o estudante necessita solicitar o visto J-1 temporário, e ter entre 18 e 28 anos. Nessa panela cultural, com ingredientes de vários países, as motivações e os objetivos das pessoas que fazem parte desse grupo são bem diferentes dos daquelas que vêm através do programa oferecido pela categoria de visto H-2B.
Os estudantes que encaram de três a quatro meses de trabalho no final do ano geralmente vêm para o país em clima de festa. Muitos nem pensam em guardar dinheiro e não têm planos para o futuro através desse intercâmbio. Eles querem mais é ter uma passagem pelo exterior, com o intuito de aperfeiçoar suas habilidades com o inglês, e gastar o salário conquistado pelo árduo trabalho em festas, viagens e em mercadorias importadas, como aparelhos eletrônicos, tênis, entre outros produtos, que são infinitamente mais baratos nos EUA do que no Brasil, por exemplo.
Para encarar um intercâmbio pela terceira vez, antes de qualquer coisa, resolvi que teria que me graduar. Eu não tinha mais tanta sede de uma experiência internacional, porque, até resolver voltar aos EUA como temporária, eu já havia feito dois tipos de intercâmbio. A minha primeira grande experiência aconteceu há nove anos, quando passei três meses e meio morando e estudando inglês em Vancouver, no Canadá. Mas a oportunidade de colocar a mão na massa e trabalhar só viria a acontecer mesmo durante as férias do segundo ano de faculdade, do curso de Jornalismo, que eu vinha fazendo na Universidade Estadual Paulista, UNESP, em Bauru.
Naquela época, acabei estendendo meu período dentro dos Estados Unidos, conseguindo uma autorização como turista. De quatro meses inicialmente previstos, acabei ficando por lá um total de dez meses e, por conta disso, fiquei bem atrasada em meus estudos. Contudo, esse atraso já vinha de uma época um pouco sombria e de mudanças inesperadas na minha vida.
Um ano antes da viagem, fui obrigada a trancar a faculdade por um semestre. Durante a faculdade, eu até sonhava em fazer minha primeira viagem aos EUA. Voltei do Canadá porque queria me graduar numa faculdade; caso contrário, adoraria ficar um pouco mais no país, por conta dos momentos maravilhosos que passei lá. Não tem escapatória, porque, depois que se lança vôo pela primeira vez, a sede de estar sempre viajando domina os corações de muitos viajantes. A satisfação adquirida pelo conhecimento, o aprendizado de novas culturas, o encontro com pessoas de país e costumes bem diferentes daqueles que você acreditava serem padrões não tem preço. Coisas que você vai perceber quando encontrar um hispano, e ele achar horrível que você coma abacate com açúcar, ao invés de sal, como acontece na maioria dos países da América Latina.


Capítulo Três



Coral Harbor: Onde moram os melhores momentos.


Mas se o homem viver muitos anos, e em todos eles se alegrar,
também deve se lembrar dos dias das trevas, porque hão de ser muitos.
Tudo quanto sucede é vaidade.
Eclesiastes 11:8


A melhor surpresa
Morar longe de casa aflige a maior parte das pessoas que decidem mudar de país. O aconchego do lar, a comidinha da mamãe, o contato direto com familiares e amigos, tudo isso faz muita falta nos primeiros dias de vivência no exterior. Alguns passam esses dias chorando e deprimidos, enquanto outros gastam grande parte dos seus ganhos iniciais em intermináveis ligações para familiares e amigos, deixados num lugar bem distante de sua realidade atual.
No meu caso, eu já estava muito habituada a viver longe de casa, e o que mais me preocupava era encontrar um ambiente aconchegante, com pessoas agradáveis, para dividir o novo lar em comum. Essa preocupação não demoraria a se dissipar, já que os dormitórios, ou apartamentos, são o primeiro lugar para onde se vai assim que se chega aos EUA com trabalho e casa garantida.
Durante os dias e horas que se antecedem à chegada ao país, cresce a expectativa sobre tudo o que se irá encontrar, especialmente sobre o lugar onde se vai morar. Para o nosso grupo, tudo isso foi uma grande e inesperada surpresa.
Trabalhar nos “States”, ganhar US$ 8 por hora, e pagar um aluguel de US$ 460 ao mês! Desde que todos nós assinamos o contrato, o valor do aluguel era o que assombrava a todos que iriam trabalhar no clube de golfe. Na cabeça de muitos, o fato de ir morar em Boca Raton, uma das cidades mais ricas da Flórida e dos EUA, seria o ponto chave e até mesmo decepcionante: um aluguel tão caro. Se calculássemos o valor de 40 horas semanais trabalhadas e subtraíssemos o aluguel, dava até vontade de desistir. Mesmo assim, por ser em dólar, o salário seria bom se comparado ao Brasil, sem contar no sonho das numerosas e gordas gorjetas que esperávamos receber, trabalhando num restaurante de luxo. Resultado do sonho: sucesso financeiro garantido.
Eu não tentei entrar em contato com os brasileiros que chegaram lá antes de mim, afinal, o contrato já estava assinado, e eu teria que encarar o que viesse pela frente. Confesso que, no que se refere à acomodação, além das pessoas para convívio nada me preocupava, além do valor extremamente alto, comparado à média do que é cobrado aos viajantes nessa mesma condição.
Na primeira vez em que fui trabalhar nos EUA, mesmo pagando metade do aluguel que iria pagar em Boca Raton agora, morei em um apartamento muito confortável, localizado em um alojamento só para funcionários temporários do hotel no qual trabalhei. No mínimo, esperava encontrar um apartamento igual, mas não muito superior àquelas condições.
Na época, eu e minha amiga ficamos encantadas com as acomodações e, como fomos as primeiras a chegar aos apartamentos, tiramos fotos de todo o ambiente, incluindo o colchão e a geladeira, que achamos um luxo para os padrões brasileiros. Três quartos para duas pessoas, um banheiro com banheira, uma cozinha toda equipada, sala com sofá confortável e TV a cabo. Alguns luxos, como cabo, eu nunca tinha tido na casa em que cresci no Brasil. Foi sensacional. Como dessa vez eu estava quase certa do que ia encontrar, surpresa fiquei quando cheguei ao Coral Harbor. Aquele que seria o endereço do grupo pelos próximos seis meses.

Esse dia começou um pouco antes de pisarmos definitivamente em solo americano, quando o grupo de onze brasileiros, uniformizados com camisetas pretas que indicavam o nome da agência de intercâmbio que nos proporcionava a viagem, parava o aeroporto, chamando a atenção pelo número de pessoas andando acompanhadas, e com a mesma roupa. Havia os mais incrédulos no grupo, que temiam a passagem pela imigração, atemorizados pelos comentários de que muitos chegam até lá e não conseguem passar pela barreira de oficiais imigratórios, que têm a fama de não hesitarem em barrar ninguém, sob qualquer tipo de suspeita. Eu passei com uma senhora que apenas me perguntou quanto tempo eu iria ficar no país, e em qual lugar eu iria trabalhar. Tudo foi muito rápido e simples com todos os que faziam parte do grupo.
Ao desembarcarmos na manhã do dia oito de dezembro de 2004 no aeroporto internacional de Miami, três garotos “valet parking” do clube (aqueles moços que manobram carros em hotéis, restaurantes ou eventos) nos esperavam devidamente uniformizados, com camisas floridas, bermudas de cor cáqui, tênis e boné, na saída do setor de desembarque internacional. Cada um deles estava pilotando um carro utilitário, com capacidade média para sete pessoas cada, além de espaço para as bagagens. Assim, em pouco mais de 40 minutos, chegávamos às nossas mais novas moradas, no condomínio Coral Harbor.
Saudando-nos, e dividindo o grupo entre os automóveis disponibilizados pelo clube, pouco depois das sete horas da manhã seguíamos a cerca de 100 km norte em direção à cidade de Boca Raton, nosso destino final. No carro, conheci algumas das meninas que iriam ser minhas futuras colegas de trabalho, enquanto aqueles garotos aceleravam e brincavam entre si, deslizando pela rodovia interestadual US I-95, que liga Miami até a cidade de Nova Iorque.
Depois de percorrermos a I-95, chegamos às principais ruas da cidade resort da Flórida, onde carros conversíveis caríssimos, condomínios de luxo, clubes de golfes e aposentados milionários fazem parte do cenário da cidade, no qual se incluem ruas bem amplas e padronizadas. Nelas, há bem pouco espaço para calçadas e muito menos ainda para circularem pedestres, como na maioria das cidades americanas.
Quando chegamos, foi assustador. Não que fosse ruim, pois já na entrada do Coral Harbor, condomínio no qual iríamos morar, fiquei de boca aberta, tamanho o luxo que encontramos. Na primeira impressão, tive a idéia de que aquele lugar fazia parte de um tour para impressionar morador de país pobre, mas não era, não. Um condomínio de apartamentos como aquele, no Brasil, só é de alcance para a classe A, a nata da sociedade, e nós iríamos morar ali.
Dentro de uma área gigantesca, o condomínio é formado por mini prédios com apartamentos tão idênticos que, nos primeiros dias, o maior desafio era encontrar o nosso apartamento no meio daquilo tudo. Muitos de nós nos perdíamos ao sair e querer voltar para casa, e o segredo era marcar pontos de referências estratégicos, como a principal entrada mais próxima ao lugar em que vivíamos.
Nessa COHAB de luxo, tínhamos disponível duas piscinas, jacuzzi (que eu, até chegar aqui, não tinha idéia do que era - para aqueles que não sabem, é uma piscina quente que tem a função de um ofurô, ou seja, uma piscina pequena com capacidade média para oito pessoas, que solta jatos de água quente). Mas não era só isso, não: ainda tínhamos um lago, quadras de tênis e academia de ginástica.
Gee, que foi o primeiro de todos a chegar, se chocou com tamanha mordomia apresentada pelo diretor de recursos humanos do clube, ao encontrá-lo no escritório, em seu primeiro dia nos EUA. “Eu entrei, ele me deu o presente de recepção que depois todo mundo ganhou. Ele me deu a chave e me mostrou o apartamento. Eu fiquei impressionado porque, no outro lugar em que eu trabalhei aqui nos EUA, o apartamento era bom, mas não tão grande e tudo tão novo como aqui. Gostei muito, tudo bonito, novo, perto do trabalho. Todo mundo me tratou muito bem. Eu já vim para cá três vezes, mas nunca me trataram assim, sempre me trataram como um empregado qualquer. No dia seguinte, ele até veio aqui, e me trouxe um carregador para o meu celular, que eu tinha perdido. Tratou-me muito bem. Impressão melhor possível”.


Capítulo Quatro


Carpe diem


Tudo sucede igualmente a todos; o mesmo sucede ao justo e ao ímpio: ao bom e
ao puro, como ao impuro; assim ao que sacrifica como ao que não sacrifica:
assim ao bom como ao pecador; ao que jura como ao que teme ao juramento.
Este é o mal que há entre tudo o quanto se faz debaixo do sol: que a todos sucede
o mesmo; que também o coração dos filhos dos homens está cheio de maldade;
que há desvarios no seu coração, na sua vida, e que depois se vão aos mortos.
Eclesiastes 9: 2,3.


Vivendo de expectativas
Passada um pouco da euforia inicial com as novidades do primeiro dia, a expectativa seria o trabalho no clube. Eu tive a oportunidade de saber quem era o diretor de recursos humanos do clube, durante uma de suas visitas rápidas a alguns dos apartamentos, no dia de nossa chegada; mesmo assim, não fomos apresentados. Mais tarde, viríamos descobrir que ele também era um dos moradores do Coral Harbor, e vizinho de um dos apartamentos que viria ser um dos mais barulhentos e problemáticos de lá.
De acordo com os comentários iniciais, todos os novos já sabiam que o diretor de recursos humanos era jovem, simpático, muito prestativo, e que o processo de treinamento seria bem prazeroso para todos nós e, enquanto muitos já trabalhavam e percorriam o trajeto até o clube de bicicleta, nós fomos conduzidos ao Broken Sound em automóveis enviados especialmente para o grupo recém-chegado.
Segui em traje simples, bonito, mas informal. Uns estavam mais vestidos profissionalmente, enquanto outros usavam tênis, camiseta e calça jeans básica, o que não parecia ser um problema, já que faríamos parte da equipe de produção, ou seja, a equipe da mão na massa. Uma das integrantes do grupo que já estava mais íntima minha comentou que meu traje não estava adequado à situação, já que eu estava usando tênis, calça corsário e uma camiseta. Confesso que me senti intimidada a princípio mas, como muitos estavam informais, tentei me sentir à vontade, já que eu sabia que grande parte dos americanos não classifica as outras pessoas pelo tipo de roupa ou pela aparência pessoal, como no Brasil, onde ir ao um shopping de chinelo, por exemplo, é motivo das pessoas te olharem de cima a baixo com ar de superioridade; afinal, não havia nada de escandaloso com a minha vestimenta.
No local, fomos apresentados à simpática e carismática assistente de recursos humanos. Sua recepção não poderia ter sido melhor, apesar de termos que nos esforçar em dobro para entender o que ela dizia, devido ao seu forte sotaque irlandês. Calma, tranqüila e por ser um pouco mais velha que o Mike, ela nos dava a sensação de ser a nossa mãe - e ela foi.
“Eu gostei da recepção do clube porque eles foram nos receber no aeroporto, e nos deram o dia livre para descansar. No outro dia, eles vieram nos buscar aqui no Coral Harbor, levaram para a empresa e o Mike e a Philippa ficaram com a gente quase uma semana explicando várias coisas. Só depois, cada um foi para seu departamento”, relata Rodrigo Molina.
Do escritório, seguimos para um tour pelas áreas do clube, e conhecemos a área já pronta, mas sem mobília, do agora restaurante principal. E não era só isso, pois tudo ali era novo e aquele prédio havia sido inaugurado poucos dias antes, para nossa sorte.
“A primeira impressão que tive foi de escravidão. Eu cheguei com a primeira leva e tínhamos que ajudar a reconstruir o lugar depois do furacão. A gente carregou caixa, milhões de coisas, e até menina carregava. Tudo que está na cozinha foi a gente que desempacotou, limpou, arrumou. Nós mudamos o escritório inteirinho de um trailer para onde hoje ele é”, explica Nicolle Israel.
Assim, quem chegou primeiro ficou responsável por arrumar a mudança de todos os equipamentos e caixas dos escritórios, armazenados em trailers montados em algumas áreas externas do clube. Nesses trailers, os funcionários administrativos, por exemplo, passaram todo o período de reformas trabalhando.
Já na primeira semana, o primeiro grupo havia conseguido fazer boas horas de trabalho por conta da mudança, e com a gente não foi diferente. Nesse mesmo dia da apresentação, eles nos colocaram para trabalhar algumas horas, a comando de Declam, uns dos gerentes do clube, responsável pelo restaurante Center Court Café, que agora viria a ser o restaurante secundário do clube. Durante nossas conversas, ele dizia que seu grande lema para ser um ótimo funcionário era manter-se ocupado a todo o momento, mesmo quando não tivesse nada o que fazer. Assim, “keep busy”, ou seja, “mantenha-se ocupado”, era o seu principal jargão, e a filosofia da gerência do departamento de Alimentos e Bebidas. O trabalho durou pouco, mas não foi nem um pouco agradável. Pena para aqueles que passaram uma semana nesse processo de limpeza e mudança para a nova sede central, pois a mão de obra deles, no começo, só foi utilizada para isso.
Antes do trabalho de mudança e carregamento de caixas em nossos primeiros momentos do clube, a impressão do ambiente de trabalho foi outra. Após conhecermos o pessoal de recursos humanos, fomos levados a uma das salas do departamento de eventos e recebidos com um belíssimo café da manhã, digno de um importante evento. No cardápio, deliciosos cookies de chocolate, de creme de amendoim, de uvas passas, suco de laranja, café, refrigerantes, doces, pães, frutas e todo tipo de guloseimas, que mais tarde fariam parte de nossa dieta diária.
Durante os minutos de descontração no café da manhã, todos nós tivemos a oportunidade de conversar com o diretor de recursos humanos, e, nesse momento, observando as características de Mike, fiquei impressionada com seu jeito expansivo, pois ele não parava de falar e brincar conosco, nem um instante. Involuntariamente o chamei, e comentei publicamente que ele parecia o personagem do burrinho falante, interpretado pelo comediante Ed Murphy, no filme Shrek. Ele se surpreendeu com o comentário e logo entrou na brincadeira.
A mesma companheira que havia me chamado a atenção em relação à minha roupa sugeriu que eu havia sido inconveniente, e que o que eu dissera não fôra nem um pouco profissional. Fiquei encucada, mesmo tendo a consciência de que estava apenas quebrando o gelo com ele e os demais, sem nenhuma outra intenção além de descontrair. Como eu já havia falado, não havia mais como voltar atrás. Restava assim a esperança de que ele não houvesse se ofendido ou guardado nenhuma má impressão sobre a minha pessoa.
Sentamos numa mesa redonda e fomos informados sobre o que seria trabalhar no Broken Sound, os procedimentos no trabalho e na moradia, as normas, vídeos com apresentações, que incluíam possíveis constrangimentos, como assédio sexual dentro do ambiente de trabalho, e como lidar com isso. Todo e qualquer tipo de prevenção para que tivéssemos uma estada sem problemas na empresa ou na Flórida.
Mas antes de todas as apresentações, preenchimento de papéis, processo de abertura de conta bancária para cada um de nós, proporcionado por dois funcionários de um dos maiores bancos do país, fomos convidados a nos apresentar aos três funcionários de recursos humanos, já incluídos Mike, o diretor, Philippa, sua assistente, e Beth, que era responsável pela folha de pagamento.
Esse trio foi responsável por uma excelente recepção a todos nós. Todos muito prestativos e atenciosos, eles nos passaram a confiança de estarmos dando o passo certo, e de que iríamos trabalhar em uma das melhores empresas da Flórida. Contudo, o departamento de recursos humanos não seria o espelho do que iríamos encontrar no pior departamento do clube, para o qual fomos contratados.
Nas apresentações iniciais, tivemos a oportunidade de nos conhecermos um pouco mais, e saber um pouco da história de cada um que estava chegando por lá. Todos se apresentavam e respondiam as perguntas de Mike, como nome, idade, profissão e por que se propôs a trabalhar nos EUA.
Quando estava chegando a minha vez, confesso que eu estava um pouco aflita, não porque tenho medo ou vergonha de participar de dinâmicas, mas sim porque eu ainda me lembrava do comentário que havia feito a Mike. Se ele não tivesse gostado do que eu falara, eu iria descobrir nessa hora.
Antes de eu começar a falar, ele já comentou a brincadeira que fiz; tentei me explicar mas, antes disso, eu percebi que ele havia entendido. Falei meu nome, idade, e expliquei que estava ali porque havia terminado a faculdade de jornalismo, adorava viajar, e essa experiência me ajudaria a chegar ao meu objetivo, que seria ser uma correspondente internacional. Como resposta, ele comentou que jornalista era uma boa profissão nos EUA, e que os profissionais de destaque chegavam a ganhar US$ 150 mil ao ano. Durante o comentário, ele acrescentou em viva e alta voz que eu era uma pessoa de muita personalidade, e que chegaria longe.
O alívio foi completo, pois aquele comentário que, segundo minha colega, teria arruinado meu relacionamento com o diretor de recursos humanos da empresa, ao contrário, surtiu um efeito além do esperado por mim. Acabada a reunião, antes de seguirmos para nossas primeiras atividades, dois colegas do grupo foram selecionados para suprir vagas remanescentes no departamento de Fitness e, portanto, não seguiriam os treinamentos conosco. Até aí, já tínhamos ouvido a má fama do departamento de Alimentos e Bebidas, o Food & Beverage Department, mas a verdade é que, para comprová-la, teríamos que encarar o trabalho. Assim, chegaríamos as nossas próprias conclusões.
“Quando eu cheguei, os brasileiros todos reclamaram, e a principio eu tive uma má impressão geral dos brasileiros. Só reclamavam, mas eu já vim preparado, porque a própria agência no Brasil tinha alertado a gente”, comenta Caio Luiz.
Eu também não esperava encontrar muitas facilidades, e avisava ao pessoal que havia tido uma experiência como camareira nos EUA, e garantia que nada poderia ser pior do que aquele trabalho, no qual eu tinha a rotina de limpar 16 quartos, em oito horas diárias, em um hotel de luxo. No hotel, o trabalho era frustrante, principalmente para aqueles que nunca haviam tido nenhuma atividade profissional parecida com a de camareiro. Na época, eu nunca consegui limpar essa quantidade de quartos diários, e felizmente os nossos gerentes e a empresa eram mais tolerantes com os funcionários temporários, pois todos eram estudantes universitários, e, salvo as exceções daqueles que já tinham feito isso em outra oportunidade de trabalho na América, ninguém jamais teria trabalhado tão duro daquele jeito. Agora tudo era bem diferente, e o contrato de trabalho deixava bem claro que, se algum dos contratados não pudesse desempenhar a função designada, seria enviado ao país de origem, sem choro!




OBRA LITERÁRIA AINDA NÃO PUBLICADA COM O TOTAL DE 335 PÁGINAS E REGISTRADA NA FUNDAÇÃO DA BIBLIOTECA NACIONAL, no. 438.356, em 19 de agosto de 2008.

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Uma noite para ficar na memória


Dois anos de Viajante Virtual

Em 2007, Viajante Virtual hoje faz anos. O VV começou sem grandes compromissos e a cada postagem ele tentou e mostrou vários aspectos interessantes da minha vida, viagens e experiências durante esse período que morei nos Estados Unidos.

Seus dois anos vem marcado por uma série de fatos que ocorreram aqui desde o final de 2004 e marcam o retorno da maioria das pessoas que, como eu, chegaram aqui há dois anos e hoje já regressaram ou regressam para o Brasil ou seus países de origem.

Na publicação de comemoração de um ano, pude contar sobre a minha primeira viagem a Disney World, onde eu realizei o sonho de quase toda criança de conhecer e até fotografar ao lado do ratinho mais famoso do mundo, Mickey Mouse. Nessa segund oportunidade, nada mais justo do que relatar minha outra grande experiência que concretizou um sonho bem antigo e faz parte das portas abertas para o meu sucesso profissional.

Através de todas as minhas histórias contadas durante esses mais de 24 meses, meu maior desejo com esse blog foi mostrar pra vocês que a oportunidade de conhecer culturas diferentes, ver lugares fascinantes e ter experiências inesquecíveis está ao alcance de cada um de nós, independente de onde você vem. O sol nasce para todos, basta você acreditar em você, colocar Deus no seu coração e acima de tudo na sua vida, e consequentemente Ele te levará a lugares e ao lado de pessoas que você nem sequer imaginaria ver ou encontrar na sua vida.

Esse é o exemplo que esse “baby boy” de apenas dois aninhos tenta deixar pra você. As portas desse novo ano já estão abertas e o Papai do céu já garantiu sucesso absoluto para aqueles que tiverem fé Nele, em Jesus e é claro, em si mesmo!

Beijo grande no coração e obrigada por ter acompanhado todo o meu processo de transformação ao escrever esse blog que começou com o sonho de uma garota recém- formada jornalista e garçonete na América que graças a Deus, depois desses anos volta ao Brasil transformada. Hoje ela é jornalista com experiência profissional adquirida no país considerado a maior potência mundial e apesar dos aspectos negativos e muitos positivos faz jus ao título, e que finalmente nasceu de novo com o título de filha do Único e Poderoso Deus. From now on I'm ready to fly!


Salmo 105
9 Do concerto que fez com Abraão, e do seu juramento a Isaque
10 O qual ele confirmou a Jacó por estatuto, e a Israel por concerto, eterno,
11 Dizendo: A ti darei a terra de Canaã, por limite da vossa herança
12 Quando eram ainda poucos homens, sim, muito poucos, e estrangeiros nela:

Bravo Business Awards


Presidente da República Dominicana, Leonel Fernández Reyna, ganhador do prêmio de melhor líder latino-americano do ano de 2006.

Circulando ao lado das celebridades de negócios da América Latina.

A história de como eu consegui realizar o sonho de fazer um estágio em jornalismo aqui na América será contada com detalhes do livro que publicarei nos próximos meses.

Durante essa experiências vários fatos marcaram minha vida durante esse quase um ano estagiando na revista de negócios Latin Trade localizada na cidade de Coral Gables, parte de Miami.

Entre esses fatos, minha participação no Prêmio Bravo de Negócios 2006 ficará marcada como um fato marcante na minha carreira profissional, abrindo com chave de ouro as portas que me levam a exercer minha profissào de jornalista.

Durante cerca de dois meses, depois de trabalhos intensivos e ligações para confirmar os eventos que faziam parte da premiação anual da revista aos melhores de negócios na América Latina, eis que chega o grande dia que me levaria a conhecer até mesmo o presidente da República Dominica, premiado como o líder do ano de 2006.

No salão de festa localizado no hotel histórico de Coral Gables, Biltmore, poucas horas antes do jantar de premiação já pude começar a entender o que me esperava na noite de gala do evento que começava no dia anterior com um torneio de golfe e um coquetel de abertura no mesmo hotel.


Acompanhada de minha irmã, cheguei ao hotel com certa antecedência para ajudar na arrumação e detalhes finais para o evento.Quase pronta para acompanhar a fotógrafa durante o evento, minutos antes da festa recebo uma pequena credencial do serviço secreto americano para que eu pudesse ter acesso ao presidente.

Os agentes, que chegaram na parte da tarde e levaram cachorros farejadores para inspecionar o salão, ficaram espalhados por todo o salão para garantir a segurança do presidente e da festa. Semelhança com filmes de Hollywood não é mera coincidência.

Eis que os primeiros convidados começam a chegar ao coquetel inicial e meu trabalho seria coletar nomes dos convidados que posassem para as fotos do evento. Trabalho fácil e contato com quase todos os participantes garantido.

Entres os convidados, donos e altos funcionários das empresas premiadas, entre elas a companhia aérea Copa Airlines, Hotel Intercontinental, Wal-Mart, Banco Banorte do México, entre outras.

Entre as autoridades, o presidente da República Dominica, Leonel Fernández Reyna e ministro responsável pela Canal do Panamá, Ricaurte Vásquez Morales foram a sensação da festa, na qual um dos premiados foi o brasileiro André Dayan, empresário e ex-aluno da Unesp como eu.

A noite foi fantástica e começou com um jantar parecido ao dos eventos de gala no qual eu costumava participar semanalmente nos clubes de golfe trabalhando como garçonete. Muita dança, animação e sessões de fotos, incluindo o presidente que após uma breve apresentação minha, posou ao lado meu e de minha irmã para uma daquelas fotos históricas que farão parte do meu album de fotografia.

Mais detalhes dos grandes encontros, entrevistas e demais histórias do já saudoso período que passei trabalhando na revista Latin Trade farão parte de minha publicação que estará circulando nos próximos meses.


Jeremias 33
2 Assim diz o Senhor que faz isto, o Senhor que forma isto, para o estabelecer, o Senhor é o seu nome.
3 Clama a mim, e responder-te-ei, e anunciar-te-ei cousas grandes e firmes que não sabes.

terça-feira, janeiro 30, 2007

Na cidade dos Anjos

Como diz o ditado ir a Califórnia e não conhecer a cidade dos anjos é como ir a Roma e não ver o Papa. Los Angeles foi meu destino relâmpago. Uma noite e um dia reservei para conhecer as mais famosas atrações que o cinema americano imortalizou. Mas como realizar essa tarefa e tão rápido?

Com a ajuda de um amigo de faculdade que atualmente mora em Los Angeles, o desafio não foi difícil. Com sua colaboração na estadia e transporte eu consegui as atrações principais da cidade. Para começar, nada foi melhor do que se hospedar em Hollywood, capital do cinema e região que faz parte da grande Los Angeles, mas para chegar até aí, um desafio me esperava.

Sai de San Diego à noite e após pouco mais de duas horas de ônibus chegava na região central Los Angeles, onde fica um dos terminais da empresa de ônibus Greyhound. Na realidade esse não foi um bom horário para chegar numa região como aquela que é uma das mais perigosas da cidade, mas meu cronograma apertado não permitia perda de tempo. Nesse caso, como meu amigo me pegou na estação, o perigo de qualquer incidente inoportuno reduziu-se muito. Mas nunca arrisque chegar nessa região a noite, de mala na mão e sem ninguém para te orientar.
Dali seguimos para um tour de carro para que eu tivesse uma idéia do que é Los Angeles. A vista noturna da bela arquitetura central e logo depois um passeio por Hollywood onde pude conhecer o Teatro Chinês, Melrose Street (aquela mesmo do seriado que passou há alguns anos na rede Globo), além da região que é conhecida como a cidade gay, ou the Boys Town em West Hollywood.

Nessa parte da cidade, a maioria dos residentes são homossexuais e tudo é voltado para o estilo de vida gay. Segundo meu amigo, a qualquer hora do dia você encontra casais do mesmo sexo de mãos dada e vivendo um livre estilo de vida sem serem oportunados, como pude confirmar durante nosso passeio. Alí vale tudo.

Passamos também por bares e pubs famosos e tradicionais localizados na Sunset Boulevard, rua que atrai turistas de todo o mundo. Já bem tarde, meu desafio começaria pela manhã bem cedo na qual teria poucas horas para desbravar a cidade ou pelo menos parte dela.


90211 – Você conhece esse número!!!

Falando em seriado americano que passou na Rede Globo, quem não se lembra do famoso Barrados no Baile que encantava a moçada com o estilo de vida de Beverly Hills nos anos 90. Para refrescar sua memória o nome em inglês do seriado da turma de Brenda e Brandon Walsh era Beverly Hills 90211, o cep da cidade. Passando por lá, não pude deixar de notar uma placa de rua que sinalizava esse famoso cep e indiretamente me dizia, “Sim, você está no endereço certo”.

Fiquei um pouco decepcionada com as atrações turísticas de Los Angeles embora não teria muito tempo para conhecer a região com detalhes. Em um dia, mesmo que rápido, consegui fazer os principais passeios com tempo. Para isso, basta estar bem localizado, pois o sistema de transporte da cidade deixa a desejar como a maioria das cidades americanas, e acertar no tour que leva para conhecer a casa dos artistas. Todos os tours oferecem a maioria das principais atrações, como ruas de Beverly Hills como a Rodeo Drive, meca das melhores e mais caras lojas de grife do mundo.

Como praia é praia em qualquer lugar, deixei as praias da cidade para uma outra oportunidade. Assim, um pouco antes do almoço, sai pelas ruas de Hollywood à procura do tour de limosine que conforme me indicaram era um dos mais baratos e o único que leva a conhecer as casas dos artistas que ficam nos morros da cidade, já que ônibus regular de tour não consegue fazer esse trajeto.

Enquanto a maioria dos tour não saem por menos de 35 dólares, com paciência e observação você encontra pessoas oferecendo os passeios de limosine pela casa das estrelas. Pague o ingresso e eles marcam um horário para saida. Nesse meio tempo você pode passear pela Hollywood Blvd e conhecer O Teatro Chinês onde acontece muitas das pré-estréias dos filmes americanos e também conhecer o Kodak Theather onde anualmente acontece a cerimônia do Oscar. Nesse dia houve a pré-estréia do filme “BeerFest”.
Pela rua em frente a essas atrações muitos artistas amadores fantasiados de super heróis do cinema chamam atenção e tentam ganhar algum trocado tirando foto com os turistas. Você vai achar de tudo.

Enquando estive lá pude ver um incidente com um desses artistas. Um rapaz muito bem vestido montou um equipamento de som em frente ao teatro chinês e começou a cantar para a multidão que percorre o local. Infelizmente, alguns policiais passaram por lá e ele não tinha licensa para se apresentar no local.

O resultado foi muita indignação quando ele recebeu uma multa das autoridades. Ao conversar com ele, o mesmo confirmou a multa e disse que ia recorrer a corte para aliviar o valor de $80 dólares de penalidade.

Depois de conhecer todas essas atrações e curtir as performances, não há muito o que fazer, além de comprar souvenirs, tirar fotos com os personagens do cinema, e da mãos e pegadas das celebridades, a exemplo da Marylin Moroe, que estão estampadas do chão em frente ao Teatro Chinês.

Infelizmente, a calçada da fama é bem decepcionante, já que nada mais é que um calçadão que percorre toda a rua principal de Hollywood com estrelas estampadas com o nome de um artista atual ou do passado.

Nos ares de Beverly Hills

Quando você estiver em Los Angeles e notar uma série de palmeiras no canteiro central de ruas amplas e cheias de mansões, você definitivamente está em Beverly Hills.

O passeio pelas ruas da mais famosa e rica estrela de Los Angeles começa em Hollywood. De lá um guia nos conduziu com uma van para os pontos principais da região. Para começar, subimos a um morro para que pudéssemos contemplar o letreiro com as letras que indicava sim, você está em Hollywood.

Bem perto dali, começamos o passeio que nos levou a ver casas de Drew Barrymore, Paris Hilton, Johnny Deep, Halle Berry, Keanu Reeves entre outros. Durante o passeio, o homem aranha, o ator Tobey Maguire estava em frente a sua casa e ele foi o único que podemos encontrar nesse passeio.

Saindo dali em direção das mansões, a placa indica “Welcome to Beverly Hills”. Ai passamos em frente de uma das casas mais movimentadas e cheias de paparazis, a casa do ator Tom Cruise. Por lá também vivem o ator Nicolas Cage e o famoso apresentador de talk show, David Letterman. Segundo o guia ele costuma ser visto passeando que seu cachorro sempre. Mas pra quem vive ali e é acostumado com os ares da cidade, ver artistas de cinema é uma oportunidade corriqueira.

Passamos pela Rodeo Drive e podemos ver o porque o estilo de vida ali é do mais alto nível. Haja dinheiro para acompanhar o ritmo de vida onde pagar 5 milhões de dólares numa casa é uma pechincha. Há aqueles que tem mais de meia dúzia de carros de 500 ou 600 mil dólares na garagem. Nada como o estilo Beverly de ser.

No final do passeio, pude passar o resto da tarde no mall central de Hollywood até que meu primeiro e último dia de meu filme em Los Angeles mostrasse os letreiros que indicasse “The End”.

Nessa mesma noite, sigo de viagem em direção a Sin City e a partir de agora você entenderá porque Las Vegas é conhecida e faz jus ao título de Sin City “cidade do pecado”.

Muros e portões da mansão preferida dos papparazis nas proximidades de Beverly Hills. Mr. and Mrs. Cruise moram aqui!

quinta-feira, dezembro 21, 2006

A princesinha da Califórnia




A princípio...
Uma viagem longa e com quase a mesma duração de uma para o Brasil me aguardava. Quinze dias, oito vôos, três longas jornadas de ônibus e nove cidades. Praticamente uma maratona, que graças ao suporte de meus queridos e saudosos amigos, realizei umas de minhas melhores experiências de viagens.

Minha viagem começou exatamente no aeroporto de Fort Lauderdale. Tudo porque as tarifas das companhias aéreas são mais acessíveis embarcando-se nesse aeroporto, no caso de vôos domésticos, mesmo morando a cerca de 15 minutos do aeroporto de Miami.

Pela madrugada embarquei no Trail Rail, sistema de trem que conecta Miami a cidade de Palm Beach com conexões aos principais aeroportos do sul da Flórida e direito a serviço de shuttle grátis da estação de trem aos terminais de cada um desses aeroportos.

Meu vôo saiu às 8:45 da manhã com destino a San Diego e escala em Washington DC. Para ser menos cansativo, o ideal seria um vôo sem conexão, contudo isso encareceria bem a viagem. No final, valeu a recompensa de passar pela primeira classe e cruzar com um homem lindo e descobrir que ele era o ator Denzel Washington, em beleza, carne e osso. Além do charme, sua presença nos proporcionou a apresentação de seu filme até então recém-lançado em vídeo, “Inside Man”, traduzido como “O Plano Perfeito” no Brasil. Tempo total de viagem, doze horas. Cruzar com o Denzel Washington numa viagem não tem preço.

O México é logo alí ou aqui???



Mochila nas costas, destino definido e primeiro ponto de chegada San Diego no estado da Califórnia ou eu estaria indo para o México e não sabia. Poderia visitar o México sim já que San Diego faz fronteira com Tijuana de nossos hermanos. Basta alguns minutos e um momento de distração, eis o México.


San Diego é assim, bonita, cidade grande com espírito aconchegante de interior e uma explosão de cultura mexicana. Jardins com vegetação alá México, toneladas de restaurantes do país, hablar e escuchar espanhol a toda hora e em qualquer lugar.

Minha viagem de duas semanas pela costa oeste americana não podia começar melhor, principalmente porque além de uma viagem de aventura, mochileira, a custos baixíssimos, ainda pude rever os amigos que nas horas de folga foram meus guias turísticos ensinando na prática o que é viver na Costa Oeste.

Como dependia da disponibilidade dos anfritiões, passei a maior parte do tempo sozinha, por isso, aproveitei para fazer aqueles famosos tours por pontos históricos e turísticos do local para começar. O resultado foram três dias intensos, com muitos passeios, muito para ser visto, num contexto de adaptação ao fuso-horário de três horas de diferença a menos, considerando-se o lado leste do país como referência.

Para um mochileiro mais que conhecer os aspectos turísticos dos destinos, o ideal é enxergar os lugares através dos olhos de um morador vivendo assim um pouco da cultura, dos hábitos locais e por alguns momentos sentir que faz parte do ambiente. Infelizmente não tive muito tempo para seguir a risca essa regra, mas com esse espírito em mente, let’s go.

A chegada

Sai as nove da manhã da Flórida e cheguei cerca de cinco da tarde na Califórnia, horário local. Isso significa que de onde vim já eram pelo menos oito da noite. Desembarquei as cinco horas em San Diego e já comecei o final da tarde em grande estilo com um passeio pelas principais ruas do centro acompanhada da Mariana e seu namorado Alessandro. O aeroporto é bem próximo ao centro da cidade e para chegar até lá não requer mais do que poucos minutos.

Jantamos no Friday’s e circulamos pela ruas mais movimentadas do centro, localizada aos arredores da Broadway Street. Depois desse longo dia, literalmente, separei a noite para descanso, pois teria que guardar minhas energias para a viagem que acabava de começar.

San Diego em três dias e meio



San Diego é uma cidade relativamente grande com cerca de três milhões de habitantes. Se você tiver apenas três dias como eu, aproveite o primeiro dia para o tour, pois assim você conhecer a maioria dos lugares e terá mais dois dias para voltar e explorar aqueles que mais gostou ou não teve tempo. Várias empresas oferecem os passeios, você só precisa encontrar aquele que melhor se adeque as suas necessidades.

Como eu teria que passar o primeiro dia sozinha, comecei pela região de Old Town de onde sai um tour de duas horas pela cidade. Esse tour começa pela manhã e termina no final da tarde dando tempo suficiente para que você desça e passe o tempo que quiser em pelo menos três pontos que melhor achar interessante. Mas lembre-se de dividir bem o tempo para poder fazer tudo e quanto mais tarde você começar o passeio,que sai de meia em meia hora, menos tempo terá para conhecer todos os pontos.

Não se esqueça que uma viagem de férias curtas não possibilita muito tempo para relaxar e descançar. Corra e explore o que puder.